A força caseira de Targô
Coronel Freitas (SC), 25/11/2005 – Uma dona de casa que ficou onze anos sem estudar deu o exemplo de como a persistência pode superar obstáculos que pareciam intransponíveis. Aos 37 anos, Targô Magri Conte se formou no início do ano pela Unochapecó e recebeu, recentemente, o resultado da prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Foi uma das poucas aprovadas.
Filha de agricultores que moravam a oito quilômetros da cidade, Targô apenas concluiu o ensino fundamental e fez alguns meses do ensino médio antes de ir para o Mato Grosso, onde morou nove anos. Distante 64 quilômetros da cidade de Nova Mutum, não tinha nem televisão, quanto mais jornais e revistas.
- Para não esquecer a alfabetização, eu lia a Bíblia, jornais velhos e revistas que pegava quando ia para a cidade.
Sua meta era voltar um dia para a sala de aula. Quando a família retornou para Coronel Freitas (SC), Targô começou a pôr em prática o seu projeto.
- Meu maior medo era não conseguir acompanhar os outros alunos.
Com o auxílio de professores da Escola Délia Régis, em Coronel Freitas, ela conseguiu livros e sanou dúvidas para as provas do Exame de Suplência de Educação Geral. Mesmo com dois filhos pequenos, ela aproveitava quando eles estavam dormindo e estudava de oito a dez horas por dia.
Em julho de 1999, entre 40 aprovados, ela ficou em 12º lugar. Formou-se com média 8,89 e tirou 9,3 na monografia. Seu plano, agora, é fazer concurso para a magistratura e também ser professora universitária. Quer que a sua história sirva de exemplo para outras pessoas, principalmente para donas-de-casa.
Targô disse que se sentiu discriminada, muitas vezes, por pessoas que consideram uma dona-de-casa alguém não muito pensante. A reportagem é de autoria de Darci Debona e foi publicada na edição de hoje (25) do Diário Catarinense.