Acusado de colocar bomba na OAB se apresenta na PF da Bahia
Salvador,29/01/2005 - O autor do artefato – confundido com uma bomba – encontrado no dia 19 deste mês na sede da Ordem dos Advogados do Brasil, seção da Bahia, foi o aposentado Alfredo Costa Cunha, 57 anos, que há pouco tempo residia em Periperi. Ele se apresentou espontaneamente na sede da Polícia Federal, onde revelou ter tomado essa iniciativa com o objetivo de chamar a atenção para um processo de indenização por torturas durante o regime militar, que, segundo afirma, depende apenas da assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Alfredo Cunha contou que sofre de problemas neurológicos e que não foi a primeira vez que colocava esse tipo de artefato em órgãos públicos. Em 2003, com o mesmo objetivo, deixou uma dessas “bombas” na Auditoria Militar do Exército, situada na Avenida Paralela, e outra no Quartel da 6ª Região Militar na Mouraria, no mesmo dia. Não houve, porém, a repercussão que ele esperava, o que só aconteceu com o caso da OAB-Bahia. Ele foi enquadrado no Artigo 251 do Código Penal, por crime de explosão, sujeito a pena de até quatro anos.
O artefato foi montado com um circuito impresso de radiola quebrada, um relógio de corda, dois pontos de led (pequenas lâmpadas) e duas pilhas. Enquanto investigadores ainda tateavam em busca do autor da “bomba” na OAB-Bahia, eis que ele aparece na sede da Polícia Federal pedindo para ser ouvido. Foi uma surpresa. Tudo o que Alfredo Cunha queria era que seu gesto tivesse grande destaque na mídia.
De acordo com seu relato, ele foi torturado por militares em 1969, durante a repressão, e seus pais duramente perseguidos pelo regime da época. Segundo Cunha, suas tentativas na Comissão de Anistia não obtiveram resultado. Com a colocação da “bomba”, esperava que a repercussão fizesse chegar ao Ministério da Justiça seu processo de indenização, que, afirma, já foi deferido e só depende agora da outorga do presidente.
Explicou também que resolveu se apresentar espontaneamente à PF porque as investigações estavam lentas e a direção da OAB desviara as atenções para o episódio da queima de documentos em terreno da Base Aérea.
Alfredo Costa Cunha revela ainda que não foi difícil colocar o artefato no interior da sede da entidade, já que ali entrava diversas vezes. Colocado o objeto, ele ainda aguardou algum tempo nas proximidades para ver se alguém o encontrava e qual seria a reação.A informação é do jornal A Tarde.