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Artigo: A toga é de briga

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006 às 09h52

Brasília, 24/02/2006 - O artigo "A toga é de briga" é de autoria do jornalista Villas-Boas Corrêa e foi publicado na edição de hoje (24) do Jornal do Brasil:

"Depois de turvo período de acomodação e de meia dú­zia de decisões decepcio­nantes, a toga varou o tú­nel com a histórica aprovação pe­lo Supremo Tribunal Federal (STF), por 9 votos a 1, da declara­ção de constitucionalidade da re­solução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que aboliu a vexa­minosa prática do nepotismo no Judiciário e embalou em veloci­dade que a redime de pecados ve­niais. Espremido contra o muro, o presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo já anunciou que, em março, incluirá na Ordem do Dia a votação da emenda constitucio­nal que estende ao Legislativo e ao Executivo, a proibição de no­mear a parentela para cargos pú­blicos. Uma faxina completa.

Antes que a poeira da acomo­dação assentasse, o ministro Gil­mar Mendes, do STF, ao assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aproveitou a opor­tunidade perfeita para ampliar o tom das críticas ao descalabro ins­titucional que grassa nos três po­deres, como praga que se infiltra por todos os desvios que levam ao saque aos cofres da Viúva.

É dos mais vigorosos, na indig­nação e na precisão da análise, o pronunciamento do novo presiden­te do TSE, em perfeita adequação ao clima de campanha antecipada com o desembaraço com que o can­didato-presidente Lula da Silva, afronta o bom senso e a ética na uti­lização ostensiva do governo para recuperar os votos perdidos no es­cândalo da corrupção - e que retor­nam, em revoada, ao ninho do favo­rito nas pesquisas.

A rajada de Gilmar Mendes atingiu alvos em série. Começou macio ao defender a óbvia necessi­dade de um novo sistema de contro­le da orgia de gastança com milio­nárias verbas escusas das campa­nhas eleitorais. E que o Congresso sempre adia para depois, enquanto os parlamentares, candidatos a no­vo mandato para um dos melhores empregos do mundo, garantem as facilidades para mais quatro anos da vida que pediram ao milagreiro santo da devoção de cada um.

Não há como falar de corrupção eleitoral sem citar o governo e o PT "No ano passado - recorda o minis­tro - o país mergulhou numa das maiores crises éticas e políticas de sua história republicana, crise esta que revelou algumas das graves mazelas do sistema politico-parti­dário brasileiro e que torna impe­riosa a sua imediata revisão". E foi ao fundo da podridão: "De tudo que foi revelado, tem-se como extrema­mente grave o aparelhamento das estruturas estatais para fins politi­cos-partidários e a apropriação de recursos públicos para o financia­mento de partidos politicos".

A síntese é perfeita, irretocável. E ecoou no discurso do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, que sem os constrangimentos do presidente TSE, não teve papas na língua. Foi direto e na moleira: "Canteiro de obra não é palanque. Fazer crer a uma sociedade como a nossa, em larga escala iletrada e despolitiza­da, que obras públicas são dádivas do Estado, do governo ou mesmo de determinado partido ou gover­nante constitui logro politico, com o qual convivemos há algumas gera­ções e que o instituto da reeleição, infelizmente, fortaleceu."

Se os dirigentes do PT expur­gado pretendem ser levados a sé­rio nos seus pruridos à flor da pele que inspiraram a ação à justiça por difamação contra o o ex-presi­dente Fernando Henrique Cardo­so pela reiterada afirmação que "a ética do PT é roubar", não têm outra saída senão acionar os advo­gados para mover ação idêntica contra o presidente do TSE.

0 presdente-candidato em maré alta de felicidade, com a alma leve como bolha de sabão ao vento, de­pois que os índices da última pesqui-sa da Datafolha confirmaram o seu favoritismo absoluto nos dois turnos, com diferença crescente para a du­pla tucana formada pelo prefeito Jo­sé Serra e o governador Geraldo Al­ckmin, ainda e cada vez mais emba­raçados no nó da indefinição do can­didato oposicionista - retornou do giro em seis estados do Nordeste com novidades na bagagem. Além das fotos do atleta esbelto e desbar­rigado correndo na praia, novas fra­ses que enriquecem a preciosa cole­ção de pérolas oratórias.

De lambuja, lançou a revolu­cionária novidade do conceito de campanha eleitoral em moto-con­tínuo, que desdenha as restrições legais: "Um homem público não precisa de época de eleição para fazer campanha. Ele faz campa­nha da hora que acorda até a hora que dorme, 365 dias por ano".

Favoritismo em pesquisa a sete meses da eleição, com o primeiro turno em 1° de outubro, não ante­cipa vitória certa. Mas é uma res­peitável vantagem que não pode ser desconsiderada.

Lula está abrindo uma distância considerável dos seus prováveis ad­versários. E ainda tem, até junho, muito tempo para viajar com as co­modidades de presidente-candida­to por todos os bolsões de votos. Com a mão cheia de promessas, a língua afiada no auto-elogio para a afirmação de êxitos e mágicas do maior presidente que este país ja­mais teve, o redentor que está cor­rigindo erros e omissões de 500 anos de governos incapazes. Desta vez, não escapou nem o almirante Pedro Álvares Cabral. Sempre re­petindo que não é candidato e, en­redado em dúvidas, só decidirá em junho, para aproveitar até a última gota o doce licor das facilidades de candidato chapa-branca".

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