Presidente da CNBB acredita que Lula sabia do mensalão
Brasília, 21/08/2005 - O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o arcebispo primaz do Brasil e cardeal de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, disse neste sábado acreditar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia do "mensalão" e do esquema de corrupção patrocinado pela cúpula PT nacional, com o aval do empresário Marcos Valério, envolvendo tráfico de influência e até evasão fiscal. "O presidente diz que não sabia de nada, mas deveria saber das coisas que acontecem no país. Acho difícil que ele estivesse tão por fora desse jeito", avaliou o arcebispo.
Em entrevista coletiva concedida para divulgar os resultados da 43ª Assembléia da CNBB, realizada entre os dias 9 e 17 de agosto em Indaiatuba, no interior de São Paulo, dom Geraldo Majella aproveitou a oportunidade para, pela primeira vez, se manifestar publicamente, na Bahia, sobre a crise política que assola o governo do presidente Lula. Ele afirmou que, apesar de acreditar que o presidente da República sabia do esquema de corrupção, é contra o impedimento do chefe da nação, mas cobrou punição rigorosa para os que forem comprovadamente culpados.
"O problema não vai ser revolvido só com a substituição do presidente. O problema é a corrupção. Por isso, estamos interessados que tudo seja esclarecido. Aqueles que praticaram algo errado contra o bem comum devem ser julgados e punidos. Aquele que usou de dinheiro que não lhe pertence deve ser obrigado a devolver", defendeu o presidente da CNBB, que compara a gravidade do momento atual com os tempos da ditadura. O receio do religioso é de que todas as denúncias de práticas ilícitas repercutam no relacionamento diário das pessoas, deteriorando o sentido de bem comum. "O risco é de se criar o pensamento de que tudo se resolve pela corrupção".
Preocupado, o arcebispo primaz do Brasil defendeu uma ampla reforma política e do sistema eleitoral do país. "Essa história de financiamento de campanhas é muito perigosa. O que está acontecendo prejudica o nosso país em todos os sentidos", avaliou o arcebispo, que citou como problema a infidelidade partidária. Apesar de não endossar o coro dos que defendem o impeachment do presidente Lula, o religioso não economizou nas críticas.
"O governo está muito preocupado com a economia, mas muito devagar para ir ao encontro às necessidades do povo. O desemprego continua e quem está empregado continua com salários minguados", considerou o cardeal, conclamando todos os católicos a assumir corajosamente seu direito de participação cidadã, a fim de levar a sociedade em geral a encontrar os rumos e decisões justas para o país. "Sempre há tempo para sanar um mal como este", concluiu, querendo ser otimista.
O secretário-geral da CNBB, dom Odilo Scherer, disse, em São Paulo, que a grande preocupação na assembléia foi com a situação política e com as denúncias de corrupção. "A crise política preocupa pela perda de credibilidade daqueles que têm obrigação de governar o país". Ele disse que é preciso restabelecer a confiança do povo no Congresso Nacional para que não se chegue a falsa conclusão de que todo político é corrupto.