Dom Waldir fala na OAB de “despejo” de morto na repressão
Brasília, 07/12/2004 – O bispo da Diocese de Volta Redonda (RJ), Dom Waldir Calheiros, criticou hoje (07) na mesa redonda realizada na OAB, o descaso com que muitas famílias de mortos e desaparecidos no período da ditadura vêm sendo tratadas. Como exemplo, ele citou o ofício encaminhado pela Prefeitura Municipal de Volta Redonda a Aguinaldo Silva, que teve o filho, Joaquim Luiz da Silva, morto no período da repressão militar. No documento, a Prefeitura informa que o túmulo de seu filho pode ser reaberto por falta de pagamento e cadastramento e, em seguida, reutilizado.
Joaquim da Silva foi morto no período da ditadura e teve o corpo sepultado em uma cova no Cemitério Municipal de Volta Redonda. Como Aguinaldo Silva é pobre e não teve dinheiro para regularizar o cadastro da sepultura do filho, a Prefeitura pediu que ele compareça à Funerária Municipal para regularizar o pagamento e o cadastro, que custam R$ 180,00.
Dom Waldir Calheiros foi procurado por Aguinaldo Silva, que disse estar aguardando o pagamento do décimo-terceiro salário para regularizar a situação junto à Prefeitura e ter direito à sepultura do filho. ”Senão os ossos serão tirados de lá”, afirmou o bispo, que vai interceder em nome de Aguinaldo junto ao prefeito de Volta Redonda, Antônio Francisco Neto (PMDB). O ofício foi recebido por Aguinaldo Silva nesta segunda-feira (06).
“Contei essa história aqui para mostrar o ridículo. Nem sequer o pai do rapaz que foi morto durante o período da repressão tem direito a uma cova”, afirmou dom Waldir Calheiros, que fez um relatório completo da denúncia e o entregou ao secretário Especial de Direitos Humanos, ministro Nilmário Miranda, presente à mesa redonda da OAB.
O evento foi realizado no plenário do Conselho Federal da OAB, em Brasília, sob a coordenação do presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Edísio Souto. Também estiveram presentes o secretário-geral da OAB, Cezar Britto, e o senador Pedro Simon.