Busato: “marqueteiros vendem feira de ilusões nas campanhas”
Brasília, 20/09/2004 - O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, afirmou hoje (20) que grande parte do eleitorado brasileiro não tem como se defender do “rolo compressor publicitário” que tem marcado as campanhas eleitorais no Brasil. Ele acrescentou que alguns publicitários contratados com verbas milionárias para conduzir as campanhas de candidatos confundem eleição com marketing e candidatos com produtos de consumo. “Os marqueteiros vendem uma verdadeira feira de ilusões nos horários gratuitos no rádio e TV, em vez de usarem esses espaços como uma oportunidade de esclarecimento ao eleitor”.
Ele criticou o conteúdo dos programas dos partidos políticos exibidos no horário gratuito da Justiça Eleitoral e afirmou que o que se vê não é a natureza do compromisso do candidato, nem a viabilidade do que ele propõe, mas a forma como o faz, as técnicas mercadológicas de que se vale. “Daí porque os chamados marqueteiros eleitorais tornam-se, em alguns casos, mais louvados que os próprios candidatos que ajudam a eleger, credenciando-se a polpudos contratos no governo que a seguir se instala”.
O assunto é um dos que vêm sendo debatidos nos Estados e no Distrito Federal por meio da Campanha Nacional de Combate à Corrupção Eleitoral, que desde 12 de abril deste ano vem sendo encampada pela OAB em parceria com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O foco da campanha tem sido na importância de o eleitor usar o seu voto com ética, não o vendendo ou o anulando nas próximas eleições municipais. “Sabemos que eleição é o impulso vital do processo democrático. É por meio dela que se recrutam os dirigentes do país e que se estabelece a participação popular, fonte legitimadora do poder”. Busato acrescentou que atitudes de conformismo do tipo “política é assim mesmo” favorecem apenas os vilões desse processo. “Na política brasileira, o clamor por ética remonta aos primórdios da formação nacional e, no entanto, ainda hoje soa a muitos como utopia, já que de escassa presença no meio”.
O presidente da OAB afirmou que felizmente as pesquisas de opinião vêm mostrando que o eleitor está atento ao ataque publicitário das campanhas eleitorais e ciente de que mudanças relevantes devem acontecer. “O eleitor brasileiro está farto de maus políticos, que prometem e não cumprem e que, uma vez no poder, esquecem-se dos compromissos que assumiram solenemente do alto dos palanques”.
Roberto Busato frisou, ainda, que somente a sociedade organizada, por meio das instituições que lhe são representativas - e a OAB e a CNBB seguramente estão entre as mais tradicionais - terá condições de impor uma mudança verdadeira em nossos costumes eleitorais. “E o caminho é este: vigilância. É preciso estar atento, denunciar irregularidades, não compactuar com fraudes”.