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Ordem relembra concepção e legado de Oscar Niemeyer para a entidade

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012 às 12h35

Brasília – “Simples, leve e pura, como deve ser a arquitetura”. Com essas palavras, o arquiteto Oscar Niemeyer definiu o projeto da sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ao doá-lo ao então presidente nacional da entidade, Reginaldo Oscar de Castro, para a construção do edifício na capital federal. Ao ser inaugurado em 12 de dezembro de 2000, após céleres 14 meses de obras, o edifício possui uma das fachadas em vidro espelhado mais belos de Brasília e faz parte do acervo das obras mais admiradas de Niemeyer, representando, segundo definição de Reginaldo Oscar de Castro, um prosseguimento do céu da cidade. “Para mim, é a continuação do símbolo da paz, da seriedade e da ética”.

Reginaldo conta que o pedido para que Niemeyer elaborasse o projeto da sede da OAB foi feito em visita ao apartamento-studio do arquiteto, localizado na Avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio. Numa conversa descontraída, durante a qual Niemeyer fumava com grande prazer sua cigarrilha, o arquiteto, à época com mais de 90 anos, disse a Reginaldo que faria o projeto. “Queríamos muito que o desenho da nova sede da OAB seguisse o exemplo deixado por todas as obras de Niemeyer construídas na capital da República”, relata Reginaldo.
 

No entanto, o membro honorário vitalício da OAB foi claro ao afirmar a Niemeyer que a sede deveria obedecer a um princípio: deveria ficar na linha entre o que separa a grande criatividade do arquiteto Niemeyer e a capacidade econômica e financeira da Ordem para realizar o projeto. “Ele riu muito e disse que faria o projeto com atenção voltada para esse critério. Para ele, era fundamental o que eu acabara de dizer, pois disse que nada o irritava mais do que criar um projeto e depois ver que este não fora executado em sua plenitude em razão de falta de condições financeiras”.
 

Dias depois chegava às mãos do então presidente da OAB um esboço manuscrito, com o desenho artístico e arquitetônico da fachada do prédio, inteiramente doado por Oscar Niemeyer à OAB. “Em dezembro de 2000 inauguramos o prédio, que é, entre os projetos de prédios comerciais de Brasília, o mais bonito de todos”, conta Reginaldo. “Um pouco antes de a obra ser concluída, fui ao Rio novamente e solicitei a Niemeyer que nos sugerisse o desenho de uma escultura para ficar à frente da sede, se possível também de ideia e concepção dele. Ele, então, mandou para mim de novo um projeto manuscrito com o desenho dessa bela escultura vermelha que fica à frente do edifício. A criação do projeto, uma vez mais, foi doação dele”.
 

O moderno edifício da sede da OAB, localizado no Setor de Autarquias Sul de Brasília, possui 6.500 metros quadrados, além de três pisos subsolos de garagens. São dez andares onde hoje funcionam auditório, salas do Pleno e das Câmaras. Croqui e esboços manuscritos de Niemeyer podem ser vistos no museu da OAB, em Brasília.
Oscar Niemeyer faleceu nesta quarta-feira no Rio de Janeiro, aos 104 anos de idade. “Fico extremamente triste com a partida de Niemeyer. Ele deixa um legado fundamental para o Brasil e para o mundo, pois nos deixou um grande acervo arquitetônico, que é admirado por todos. Tenho que aplaudi-lo e dizer que o Brasil perde, hoje, um grande brasileiro”.
 

Veja a seguir a íntegra da entrevista feita nesta quinta-feira com o membro honorário vitalício da OAB, Reginaldo Oscar de Castro:


OAB Nacional – Como foi a decisão de escolher o arquiteto Oscar Niemeyer para ser o criador do projeto da sede da OAB?

Reginaldo de Castro - Marcamos uma visita ao grande arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer porque queríamos muito que a sede da OAB seguisse o exemplo deixado por todas as obras de Niemeyer na capital da República. Fomos ao Rio e ele nos recebeu com a gentileza de sempre em seu apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana, do alto de seus mais de 90 anos. Ele fumava a sua cigarrilha com enorme prazer e nos recebeu com diálogo extremamente agradável, interessante e inteligente. Eu disse a ele que gostaria muito que a Ordem dos Advogados do Brasil tivesse uma sede projetada por ele. No entanto, fui claro ao afirmar que essa sede deveria obedecer ao seguinte princípio: deveria ficar na linha entre o que separa a grande criatividade do arquiteto Niemeyer e a capacidade econômica e financeira da Ordem para realizar o projeto. Ele riu muito e disse que faria o projeto com atenção voltada para esse critério. Para ele, era fundamental o que eu acabara de dizer, pois disse que nada o irritava mais do que criar um projeto e depois ver que este não fora executado em sua plenitude em razão de falta de condições financeiras.


OAB Nacional – Como foi resolvida a questão financeira pela OAB?

Reginaldo de Castro - O desenho arquitetônico e artístico da fachada do prédio, ou seja, a forma do prédio, o marco zero da obra, foi inteiramente doado por Oscar Niemeyer à OAB. Logo depois de nossa visita ao Rio, Niemeyer me mandou um esboço manuscrito, o qual até hoje guardo com enorme carinho, propondo um desenho de fachada que é exatamente esta que está construída e cujo prédio abriga, hoje, a sede da OAB Nacional. Nesse manuscrito, ele escreveu “Prezado Reginaldo: esta é a solução que propomos, simples, leve e pura, como deve ser a arquitetura”. A fachada da OAB, ao que nos parece e como a vemos hoje, é uma continuação do céu de Brasília. Para mim, é a continuação do símbolo da paz, da seriedade e da ética.


OAB Nacional – Logo em seguida as obras começaram?
 

Reginaldo de Castro – Sim, pois fiquei extremamente entusiasmado com o projeto. Fizemos o projeto executivo da obra, a licitação para contratação dos serviços de engenharia e conseguimos construir o prédio a um preço admiravelmente baixo, tendo custado, à época, R$ 1.100,00 o metro quadrado do prédio mobiliado. Oscar Niemeyer sempre elogiou muito o fato de termos conseguido construir o prédio no prazo de 14 meses, como eu havia dito a ele que faria. Em dezembro de 2000 inauguramos o prédio, que é, entre os projetos de prédios comerciais de Brasília, o mais bonito de todos. Um pouco antes de a obra ser concluída, fui ao Rio novamente e solicitei a Niemeyer que nos sugerisse o desenho de uma escultura para ficar à frente da sede, se possível também de ideia e concepção dele. Ele, então, mandou para mim de novo um projeto manuscrito com o desenho dessa bela escultura vermelha que fica à frente do edifício. A criação do projeto, uma vez mais, foi doação dele.


OAB Nacional – Qual é o sentimento que fica após o falecimento desse importante brasileiro?
 

Reginaldo de Castro - Fico extremamente triste com a partida de Niemeyer. Ele deixa um legado fundamental para o Brasil e para o mundo, pois nos deixou um grande acervo arquitetônico, que é admirado por todos. Tenho que aplaudi-lo e dizer que o Brasil perde, hoje, um grande brasileiro. Estamos tristes com sua partida, mas, ao mesmo tempo, compreendemos que, como ele próprio dizia, ‘tomar a pílula da juventude eterna, ele só tomaria se todos pudessem tomar’. Ou seja, se todos os amigos de Niemeyer pudessem ficar vivos, ele gostaria de ficar. Diante disso compreendemos que todos temos o momento de partir. Tivemos a felicidade de tê-lo entre nós por 104 anos, quase 105, mas não deixamos de lastimar profundamente a sua partida.

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