Brasília, 26/04/2009 - " Foi um dos dias mais tristes da minha vida. Estava na praça Cardoso, em Aracaju, onde havia sido realizado o comício das diretas-já, e, ao lado de amigos, acompanhei pela televisão voto a voto dos parlamentares no Congresso Nacionalem Brasília. Ao final da votação ficamos arrasados com o resultado. Foi um chororô geral". A afirmação foi feita hoje (26) pelo presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, ao relembrar a madrugada de quinta- feira, 26 de abril de 1984. Nessa data, há exatos 25 anos, o Brasil amanhecia com a maior ressaca cívica de sua história. Por uma margem de apenas 22 votos, a emenda do deputado Dante de Oliveira, mais conhecida como a emenda das diretas-já, eram rejeitada sepultando o sonho de milhões de cidadãos brasileiros que saíram às ruas em todo o país durante vários meses reivindicando o direito de eleger o presidente da República.

A partir do golpe militar de 1964, que cassou o então presidente João Goulart, os presidentes da República foram todos generais e escolhidos pelo voto indireto, por meio de um colégio eleitoral. A campanha pelas diretas-já teve início em Curitiba (PR) com a realização do primeiro comício no dia 12 de janeiro de 1984 e reuniu cerca de 60 mil pessoas. Imediatamente, o movimento ganhou mais adeptos, espalhando-se por todo o país como uma onda e transformando-se na maior mobilização popular de que se tem notícia na história do país

A Campanha das Diretas teve apoio imediato da sociedade civil, representada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), além de intelectuais, artistas, professores e estudantes. Dentre os políticos mais importantes que atuaram no movimento, destacaram-se Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, Mário Covas, Teotônio Vilela, Leonel Brizola, Miguel Arraes - todos já falecidos e dois que anos depois tornaram-se presidentes do país por meio do voto direto: Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, além do governador atual de São Paulo, José Serra.

Após o sucesso do comício de Curitiba, a caravana das diretas-já percorreu todas as capitais do país. O último comício do movimento foi realizado pelos políticos na Candelária, no centro do Rio de Janeiro, em 10 de abril de 1984 e contou com a presença de mais de um milhão de pessoas. A manifestação ocorreu no dia em que o então presidente João Figueiredo estava em Madri, na Espanha. Figueiredo, último general presidente da República, comentou que, se estivesse no Brasil, o comício teria um milhão e um na Candelária. Ou seja, ele estaria presente na manifestação.