Menu Mobile

Conteúdo da página

Editorial: História extraviada

sexta-feira, 14 de março de 2008 às 06h15

Brasilia, 14/03/2008 - O editorial "História extraviada" foi publicado na edição de hoje (14) do Jornal do Brasil:

"Merece aplausos a decisão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de solicitar ao Superior Tribunal Militar a instauração de inquérito para investigar o desaparecimento de documentos referentes à chamada Guerrilha do Araguaia. Afinal, o próprio artigo 321 do Código Penal Militar estipula como crime o extravio, a sonegação ou a inutilização de livro oficial ou qualquer outro documento de posse e guarda dos militares. A pena prevista é de reclusão de dois a seis anos.

Convém recordar que o movimento armado do PCdoB pretendia combater o regime militar, organizando uma "guerra popular prolongada" a partir do Bico do Papagaio, região ao sul do Pará. Entre as primeiras ações políticas até as últimas confrontações armadas, compreende-se o período histórico da Guerrilha do Araguaia entre 1966 a 1975. Em 1971, o Exército localizou o grupo rebelde e, em seguidas ações, conseguiu dizimá-lo três anos depois. Acredita-se que 16 soldados morreram nas operações. O balanço oficial confirma sete baixas entre os comunistas. O Ministério da Justiça, contudo, tem outro balanço. Contabiliza 61 desaparecidos. Testemunhos de sobreviventes e de moradores vizinhos falam em torturas e contam que os corpos dos guerrilheiros foram enterrados em vários locais, numa espécie de "operação limpeza".

Tais relatos motivaram, em 2003, a criação de uma comissão interministerial para identificar os desaparecidos no episódio. Após breves estudos, ficou evidente que a documentação sobre o confronto de três décadas atrás havia sido inutilizada ou extraviada configurando o crime militar.

Ressalte-se que, com o pedido de investigação da OAB, nenhum dos lados envolvidos no conflito vai a julgamento. Não se pensa em retaliação, mas em descobrir como e por que documentos da mais alta relevância (não apenas para os familiares das vítimas, mas para que o Brasil entenda uma parte ainda obscura do período em que foi governado pelos militares) sumiram dos arquivos oficiais. Vale lembrar que a anistia está em vigor desde 1979 e é justa. Um perdão de mão dupla. Anistiaram-se não só os punidos por crimes políticos, como também os agentes do Estado que houvessem cometido violência de toda espécie contra aqueles. Com os arquivos abertos, o Brasil deseja e merece reconciliar-se com sua História".

Recomendar

Relatar erro

O objetivo desta funcionalidade e de reportar um defeito de funcionamento a equipe técnica de tecnologia da OAB, para tal preencha o formulário abaixo.

Máximo 1000 caracteres