Artigo : cursos ruins, profissionais fracos
Brasília,02/08/2004 - Artigo do presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais, Nourival Resende, publicado hoje no jornal Gazeta Mercantil:
Brasília,02/08/2004 - Ensino de ciências contábeis sofre com proliferação de escolas sem qualidade. Quando a Ordem dos Advogados do Brasil se levanta para combater a proliferação dos cursos de direito pelo País, ela na verdade o faz refletindo uma realidade que não afeta apenas aquele segmento. Vivemos hoje, também na área de ciências contábeis, uma febre perniciosa de cursos que despejam no mercado ano a ano milhares de profissionais sem qualificação técnica para exercer a profissão de contador.
Essa é uma realidade que não podemos esquecer, e o Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais tem trabalhado na defesa dos interesses da universidade de qualidade, com profissionais valorizados e alunos satisfeitos. A culpa, sem dúvida, não está nos professores, muito menos nos alunos, mas num sistema pernóstico que contribui para tornar a educação um produto qualquer, à medida que cria cursos mal fundamentados, remunera mal seus profissionais e não investe na infra-estrutura das faculdades de ciências contábeis para dar-lhes as necessárias condições de formação acadêmica.
Como professor de ciências contábeis há mais de 20 anos, sei o quanto é difícil galgar os passos para alcançarmos nossos objetivos na vida. À frente do Conselho Regional de Contabilidade, temos nos esforçado ao máximo para elevar o nível profissional de nossa classe e não medimos esforços para valorizar o papel do professor.
Exercemos também um papel complementar de educação continuada, atuando desde o exame de suficiência para acesso à carreira até cursos de capacitação e aperfeiçoamento profissional voltado a todos os profissionais contábeis de Minas. Mas não posso me furtar a reconhecer que as estatísticas são preocupantes e refletem esse quadro de proliferação desenfreada de cursos em todo o País.
Os índices mostram que mais da metade dos novos profissionais que saem das universidades não consegue passar no teste de exame de suficiência exigido pelo Conselho Regional de Contabilidade. No âmbito do Conselho Federal de Contabilidade, o problema se repete, com reprovação maciça nos exames de acesso. É uma realidade e precisamos corrigir essas distorções, exigindo do governo federal e dos empresários que comandam o setor de ensino privado no País as condições mínimas para abertura de novos cursos. Cabe ao governo fiscalizar a atividade e banir do mercado os cursos que efetivamente não têm compromisso com a formação, remuneram mal os seus profissionais e estão preocupados apenas com o lucro fácil obtido com as elevadas mensalidades.