Carta da OAB-SC à revista Veja
Brasília, 09/06/2004 - Carta enviada hoje (09) pelo presidente da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Santa Catarina, Adriano Zanotto, ao diretor de redação da revista Veja:
“Definitivamente, Veja não aceita concorrência. Apesar de estar há mais de um ano, sistematicamente, alvejando o governo Lula em todos os seus aspectos - não se constrangendo, inclusive, em levantar e publicar informações dolorosas e irrelevantes sobre o passado dos familiares do presidente e que não influem na condução do país, Veja inesperadamente se arvora de defensora do mesmo governo e instituições em que bate, parecendo chamar a si o monopólio da crítica.
Para isso, cometeu a grosseria e o desatino de que acusou o presidente do Conselho Federal da OAB, Roberto Busato, com a matéria "O Febeapá da OAB". Com isso, Veja incorreu em dois pecados basilares do Jornalismo: 1 - veiculou matéria tendenciosa e opinativa; e 2 - não concedeu a Busato a oportunidade de se manifestar no mesmo texto.
É triste constatar que uma publicação como Veja, cujo passado de excelentes serviços prestados à democracia e ao país, desça ao nível de atacar com espantosa violência o mais elementar direito de um ser humano: o da liberdade de expressão. O governo Lula parece já não precisar de advogados: tem Veja para defendê-lo com uma paixão que beira à insensatez.
Cabe à OAB, sim, criticar. Essa mesma OAB que é chamada a agir em prol do nosso país tem o mesmo direito de qualquer instituição ou cidadão de alertar para equívocos que prejudicam a Nação e cuja conta deverá ser paga por todos nós. As críticas do presidente da OAB ao valor do salário mínimo, que não tiveram qualquer cunho pessoal, sabidamente refletem um verdadeiro consenso nacional. É da alçada da OAB, sem dúvida, manifestar-se de maneira isenta e independente sobre os assuntos nacionais, o que continuará fazendo, vigilante na defesa da cidadania, em obediência ao seu Estatuto, em especial em seu artigo 44, que compromete a Instituição com a defesa da Constituição e da justiça social.
Finalmente, perdida parece estar Veja, que vem - irônica e lamentavelmente - se desencontrando da informação responsável, da liberdade de expressão e opinião, da coerência e, infelizmente, do jornalismo”.