Teresina (PI), 11/08/2010 - O artigo "A arte da defesa" é de autoria do presidente da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Piauí, Sigifroi Moreno Filho, e foi publicado hoje no jornal O Dia (PI):

"De pequeno se conhece um advogado. Basta lembrar dos palpites proféticos dos parentes, ao notar que o menino é teimoso e birrento, seguidos da conclusiva expressão: "Esse vai ser advogado!".

Contudo, ser advogado é muito mais que teimar, que birrar, que discordar. Ser advogado é, dentre tantas outras coisas, não aceitar as verdades prontas e acabadas que, muitas vezes, representam interesses maquiados de meias verdades ou - o que é pior - completas mentiras. É contestar versões para apurar motivações, circunstâncias, influências, enfim, para maturar o real, que só se firma com o contraditório e a defesa exercida em sua plenitude.

E é isso que nos importa: a defesa. Tanto que a fazemos em sua amplitude, ou seja, escudando desde o simples cliente portador das causas mais tênues até a sociedade em geral, de questões muito mais truncadas e profundas.

O que nos sacia, nesta árdua missão, não são honorários, salários, vencimentos, proventos. Ao verdadeiro causídico importa muito mais a lustração da Justiça, o que ocorre a cada vez que a equidade prevalece e a alguém lhe é dado o que é de Direito.

Neste instante, somos, como ocorre a muitas outras profissões, instados a se reinventar. Bate à nossa porta o indefensável e inadiável processo virtual, cujas promessas são sedutoras, dentre elas as da celeridade e economia processual.

Como tudo novo, isso também nos soa estranho, mesmo incômodo, mas é salutar que interpretemo-lo como, meramente, desafiador. Tal característica nos impele e, motivados à superação, tiraremos de letra mais essa adequação. A OAB-PI viabilizará as ferramentas para irmos, vermos e vencermos essa necessária etapa.

Mas, ao tempo em que olhamos para o futuro, não releguemos as vitórias já alcançadas. Nesse sentido, revigoremos, a cada dia, nossas prerrogativas conquistadas a duras penas e que, mesmo que consubstanciadas em nosso Estatuto, vez ou outra são peitadas por quem por elas deveria zelar.

Não percamos de vista o nosso foco maior, que é a luta por uma sociedade mais justa, por um Estado Democrático de Direito atuante, por um mundo menos inóspito. Não é que tenhamos ferramentas para isso. Somos, isto sim, as próprias ferramentas.

Neste dia especial, sem desmerecimento às demais datas que servem de comemoração a outras tão gratificantes profissões, resta-nos, antes de mais nada, cosermos para dentro, aqui parafraseando a escritora Clarice Lispecto.

Isso, na prática, significa refletir profundamente sobre quem somos, de onde viemos, o que queremos, para onde vamos neste ideal de fazer justiça cotidianamente.

Ofuturo nos espera, o Brasil nos precisa, a sociedade nos clama e nossos ideais nos encorajam. Viabilizemos, pois, tais anseios. De preferência, com arte. A arte briosa da defesa útil!

Parabéns à advocacia piauiense, hoje e sempre: exemplo de retidão, dignidade, trabalho e honradez".