Advogado escreve à OAB e defende memória do pai, ex-presidente nacional da entidade

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008 às 05:49

Brasília, 19/12/2008 - O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, recebeu hoje (19) carta do advogado Gilberto Povina Cavalcanti, na qual ele pede justiça à memória do seu pai, Carlos Povina Cavalcanti, ex-presidente do Conselho Federal da OAB (agosto de 1962 a abril de 1965), que considera ter sido atacada por matéria publicada pelo jornal O Globo, do último dia 09, sobre o papel dos civis no AI-5. Para o advogado, o jornal e os jornalista autor da matéria "cometeram brutal injustiça com meu pai, de há muito falecido, atingindo sua memória e a própria instituição por ele presidida nos anos negros".


A seguir, a íntegra da carta enviada ao presidente nacional da OAB, Cezar Britto, pelo advogado Gilberto Povina Cavalcanti:


"Senhor Presidente


A verdade não tem duas faces, nem mesmo no imaginário de Jorge Amado nos seus "Velhos Marinheiros".


A distorção dos fatos leva sempre à injustiça que difunde-se pela sociedade, induzindo julgamento falso, vitimando, muitas vezes, a quem não pode mais defender-se.


O Jornal "O Globo" e o jornalista responsável pelas matérias relativas ao período ditatorial, abeberados em conclusões de soi disant historiadores, cometeram brutal injustiça com meu pai, de há muito falecido, atingindo a sua memória e a própria Instituição por de presidida nos anos negros de 1964 a 1966.


O cenário da época precisaria ser melhor conhecido pelos hermeneutas de hoje, mas o que é certo é que a Ordem dos Advogados do Brasil na Presidência de Povina Cavalcanti teve, a partir dos desvios de conduta do governo, atitudes de desassombro e de reação corajosa ao governo militar, foi assina, quando da prisão ilegal do jornalista Hélio Fernandes da "Tribuna da Imprensa", momento em que o presidente da OAB em entrevista ao vivo à televisão, desafiou o então Ministro do Exército General Jair Dantas Ribeiro, exigindo a libertação daquele homem de imprensa. Foi assim, quando o Conselho Federal em sessão histórica, enfrentou o Governo Central e concedeu, reformando decisão da Seccional do Distrito Federal, inscrição imediata nos quadros da OAB aos Ministros cassados do Supremo Tribunal Federal Evandro Lins e Silva, Vitor Nunes Leal e Hermes Lima. Nessa sessão foram marcantes os pronunciamentos de Seabra Fagundes, Sobral Pinto e do Presidente Povina Cavalcanti, que empregou metáfora para descrever a violência governamental , referindo-se à instituição no Brasil de um "paredão branco", onde os adversários do governo estavam condenados a morrer de fome.


Tais episódios, dentre tantos outros, estilo registrados nos anais dessa Casa, como seguramente deles devem constar artigos de Evandro Lins e Silva e de Barbosa Lima Sobrinho, publicados na imprensa, sendo que este ú1timo no Jornal do Brasil da a exata medida e dimensão da participação do bastonério na Comissão de Investigação, da qual afastou-se no instante em que viu ameaçada a sua independência para decidir. Mas, o jornalista maledicente preferiu o caminho curto da ofensa e com isso há de ter conquistado aplausos do leitor, que não tem como avaliar a notícia e o fato, senão pela ótica de quem, infelizmente, pode dizer o que lhe interessa.


A Presidência de V.Exa., em tempos difíceis onde os direitos do cidadão e as prerrogativas do advogado são violados sob pretextos diversos, tem revelado sensibilidade democrática, fazendo da OAB o radar cívico, a que meu pai aludiu no discurso de posse na Presidência do Conselho Federal, também transcrito nos anais dessa Casa.


A postura de hoje tem certamente raízes no passado, que penetraram o solo brasileiro, desde os tempos em que fazia escuro, mas os homens livres cantavam, para lembrar o titulo emblemático do livro de poemas de Tiago de Melo.


O que espero, Sr. Presidente, é que se faça justiça à memória de meu pai, e que o Conselho Federal atue para tanto. A palavra do silêncio é a única que não cabe, quando o passado da Instituição é injustamente atacado e os homens de bem que a conduziram desrespeitados".