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OAB debate violência contra a mulher no ambiente de trabalho

terça-feira, 28 de junho de 2022 às 22h10

A OAB Nacional debateu, na noite desta terça-feira (28/6), "A violência em face da mulher no ambiente de trabalho". O encontro integra o ciclo de eventos organizado pela Comissão Nacional de Educação Jurídica para promover o diálogo da OAB com professores, alunos e instituições de ensino superior. A mesa desta noite também integrou a campanha Advocacia sem Assédio, da Comissão Nacional da Mulher Advogada (CNMA). O evento foi transmitido na Plataforma de Eventos da OAB e também no canal da Ordem no Youtube.

Estiveram presentes a presidente da CNMA, Cristiane Damasceno, a advogada especializada em gênero e professora da New School for Social Research de Nova York, nos Estados Unidos, Mayra Cotta, e a advogada e pesquisadora colaboradora da Universidade de Brasília (UnB) Pretty Leite. A secretária-geral do Conselho Federal da OAB, Sayury Otoni, mediou o encontro. 

As integrantes do grupo abriram suas falas lamentando os episódios de violência contra a mulher ocorridos nas últimas semanas, particularmente o ataque de um procurador do município de Registro (SP) contra a procuradora-geral da cidade. Na noite desta segunda-feira (27/6), o Conselho Federal da OAB participou de ato em solidariedade à Gabriela Samadello Monteiro de Barros, agredida brutalmente por Demétrius Oliveira de Macedo, na segunda-feira da semana passada (20/6). O vídeo foi exibido durante o encontro. 

Sayury Otoni ressaltou que as situações ocorridas na última semana, com a agressão física em Registro, a violência cometida dentro do ambiente hospitalar contra uma atriz já violentada e a negativa da possibilidade de aborto numa situação de estupro de vulnerável dão o tom da desiguladade e da opressão da mulher no Brasil. 

“São três situações que nos deixam estarrecidas e mostram ainda o quanto as mulheres são assediadas no cotidiano, quando todas as ações dela precisam de crivo ou de aprovação de outras pessoas. Ela é julgada pela aparência, é julgada pela roupa que veste. Ela é julgada pelo que faz ou pelo que deixa de fazer. Não há como está certo”, enfarizou.

A secretária-geral segue afirmando que, “quando uma mulher assume uma posição de poder isso de alguma forma incomoda. E incomoda muito. É preciso falar sobre isso. É preciso falar que existe este incômodo”. 

Ela levou ao evento um estudo feito pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Instituto Locomotiva a respeito de percepção sobre violência e assédio contra mulheres no trabalho. A pesquisa revelou que 76% das trabalhadoras entrevistadas sofreram violência e assédio no trabalho. Dos tipos de assédio, ouviram xingamentos e gritos 40% das mulheres, receberam convites inadequados ou receberam em situações constrangedoras 39%, não tiveram opiniões e pontos de vistas levados em consideração 37%, recebiam salários menores do que pessoas do sexo oposto no mesmo cargo 34%. “Dos casos relatados somente em dos 28% o agressor sofreu algum tipo de consequência. É a certeza da impunidade”, pontuou.

Cristiane Damasceno afirmou que são muitos os passos a serem dados na direção da construção de um ambiente saudável e seguro para a mulher advogada. "A primeira missão era fazer com que o sistema OAB acreditasse em uma campanha como essa. Costumo dizer que nós chegamos numa terra fértil e sob a liderança do nosso presidente Beto Simonetti e a sua diretoria, quando eu levei esse assunto do assédio ninguém pestanejou", contou.

Damasceno, retomando o caso de Registro, pontuou a gravidade da descredibilização das mulheres no ambiente profissional. E defendeu a necessidade de tomada de medidas rápidas e efetivas em situações do tipo. "Todas as vezes que nós estamos nos espaços de poder e nos cargos decisórios as pessoas tendem a nos desacreditar. E eu explico. Ela já tinha avisado do comportamento desse rapaz", ressaltou. 

Mayra Cotta elencou alguns dados que dão conta da dimensão do problema. De acordo com ela, a violência é sistêmica, estrutural e invisibilizada. Pesquisas mostram que, nos EUA, uma em cada três advogadas já sofreu assédio sexual no trabalho. Segundo a advogada, a realidade daquele país é bastante semelhante à do Brasil neste aspecto. 

"Isso significa que um terço das advogadas já sofreu assédio sexual no exercício da sua profissão, pelos clientes, pelos colegas de trabalho, pelos funcionários da Justiça, por juízes, promotores, desembargadores. Fora os outros tipos de violência, de micro-agressões diárias que a gente sente e que todas nós mulheres que ocupamos espaços públicos, espaços de poder sofremos. E quanto maior a intensidade do poder, mais hostil o ambiente", apontou.

Ela também ressaltou que, no Brasil, segundo o Mapa da Violência de 2020, 67% das vítimas são mulheres, e não homens jovens em ambiente urbano e público, como o senso comum diz. Foram 12 denúncias de violência contra a mulher por hora em 2020. E, pelos dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2021, um quarto das mulheres foi vítima de algum tipo de violência física no Brasil em 2021. "E aí tem um dado que eu acho muito importante a gente discutir que vai no coração da descredibilização. Em relação à violência doméstica, uma mulher, é, em média, agredida 35 vezes antes de levar às autoridades."


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