Editorial: Direito em xeque

Rio Branco (AC), 26/01/2007 - O editorial "Direito em xeque" foi publicado na edição de hoje (26)do jornal A Tribuna, do Acre:

"O ensino do Direito atravessa um momento problemático. Seja pela grande quantidade de formandos, pela proliferação de cursos muitas vezes sem a estrutura necessária ou pelo despreparo do corpo docente, uma das mais tradicionais opções de curso superior entre os jovens está em crise. A situação é epidêmica: ocorre simultaneamente em várias cidades.

Instituição voltada à fiscalização prática das regras que os estudantes aprendem nas faculdades, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi a primeira a ligar o alerta vermelho. A preocupação, elementar, perpassa estudantes, pais de estudantes, academias, enfim, sociedade em geral:nossos cursos jurídicos estão em harmonia com as necessidades de formação de seus alunos?

Tal preocupação pode revelar uma deficiência da própria pedagogia universitária. Até onde vai a eficácia da desgastada metodologia da aula-conferência - aquela em que o professor, supostamente detentor do conhecimento, porta-se mediante seus alunos como ser superior?

A situação é tão grave que, a exemplo do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, o presidente da OAB-AC, Florindo Poersch, já avisou: as instituições particulares de ensino precisam reformular suas metodologias de ensino.

Na OAB nacional, Busato chegou a sugerir à Câmara dos Deputados a instalação - urgente - de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para a qualidade de ensino jurídico no País. Por trás de toda esta preocupação está um mal há muito tolerado por professores e alunos: a coisificação do ensino, eficiente em criar ótimos técnicos-para-o-mercado, mas incapaz de pensar o ensino como um ato dialógico, multidisciplinar.

A crise no ensino de Direito tem lá suas particularidades. No entanto, ela é espelho de outra crise mais sutil, mais profunda: o da alienação do saber."