Falsário enganava a polícia fingindo ser advogado

sábado, 21 de janeiro de 2006 às 01:00

Salvador, 21/01/2006 - De tanto freqüentar ambientes penais por conta dos delitos de que era acusado, o falsário Edgar Vieira da Silva Filho, 45 anos, terminou pegando gosto pela beca. Forjou uma carteira da Ordem dos Advogados do Brasil, adquiriu exemplares dos códigos Penal Brasileiro e de Processo Penal, dentre outros títulos indispensáveis à prática do Direito, despiu-se de quaisquer possíveis pudores e saiu à cata de clientes.

Bem ao estilo advogado de porta de cadeia, começou a rondar delegacias e presídios a farejar possíveis clientes. Saiu-se vitorioso em algumas ocasiões. Anteontem, a polícia pôs um fim à sua promissora carreira, devolvendo-o para o lado de dentro das grades, de onde aguarda a tutela, agora sim, de um verdadeiro profissional do Direito.

A farsa começou a ser desmontada na semana passada, quando o diretor do Presídio Ariston Carvalho, em Ilhéus, Paulo César Evangelista, procurou a delegada Adriana Paternostro, titular da Delegacia de Proteção ao Turista, e lhe comunicou suas suspeitas em relação ao modo pouco ortodoxo de atuar do "Dr. Edgar". Suas maneiras e seu modo de agir diferiam da conduta dos outros advogados com os quais ele costuma lidar, justificaria Evangelista.

Alertada, a delegada solicitou a uma equipe de investigadores que vasculhasse a vida do suposto advogado. Uma busca ao cadastro da OAB aqui, uma pesquisa no banco de dados da polícia ali e a vida do suspeito surgiu aos borbotões: registro profissional falso, prisão em regime fechado por assalto na Penitenciária Lemos Brito, passagem pela Delegacia, de Repressão a Furtos e Roubos, estada na 22ªDP (Simões Filho).

A última vez em que Edgar esteve numa delegacia, ainda como advogado, foi no sábado passado. Representava o assaltante André M. de Oliveira Filho, preso numa investigação desenvolvida sob o comando do delegado Humberto Mattos, titular da Delegacia de Repressão a Roubo de Carga (Decarg), e do capitão Barreto, do Serviço de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública. Bem falante, acompanhou o interrogatório do "cliente" e o orientou, como qualquer outro defensor o faria.

Impressionado com a lábia do "advogado", o assaltante assinou procuração em seu nome e chegou a lhe passar o cartão bancário, devidamente acompanhado da senha, para que ele pudesse sacar o valor correspondente aos honorários. Tudo parecia correr conforme os planos de Edgar, até que, na quinta-feira à tarde, quando tentava mais uma audiência com seu constituinte, sua farsa foi desmontada.

Confrontado com as provas do golpe, "Dr. Edgar" capitulou. Afinal, em sua casa, a polícia recolhera farto material usado na confecção de carteiras de identidade, certidões e RGs falsos, além de papel timbrado do Tribunal de Justiça da Bahia.

Levado à presença da delegada, anteontem à noite, o falsário ainda tentou um último ardil: "Doutora, a senhora não está lembrada de mim? Eu estive aqui, no sábado, acompanhando um cliente...".

Natural de Salvador, Edgar está em Ilhéus há pelo menos quatro anos, segundo informações da polícia, período em que vinha atuando esporadicamente como advogado. Dentre outras acusações, ele vai responder por estelionato, falsa identidade e falsidade ideológica, adianta a delegada Adriana Paternostro, que tem agora um desafio: checar, com bastante cuidado, a identidade do advogado que se apresentar como seu representante.