Artigo: Como encobrir a vergonha

quarta-feira, 16 de novembro de 2005 às 04:18

Brasília, 16/11/2005 - O artigo “Como encobrir a vergonha” é de autoria do vice-presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Aristoteles Atheniense:

“A tomada de posição do Conselho Federal, em sua última sessão, instituindo uma comissão destinada a avaliar a oportunidade do processo de impedimento do Presidente da República, recebeu aplausos de parte da população e críticas de outros setores, que consideraram dispensável esta cautela.

O presidente Roberto Busato, na ocasião, deu os motivos que justificaram a providência tomada, evitando incompreensões quanto ao alcance daquela proposta, formulada pela nossa valorosa Conselheira Elenice Carille.

Assim que eclodiu o escândalo dos Correios, o Presidente Lula empenhou-se junto aos governadores para que pressionassem suas bancadas, evitando a criação dos órgãos investigatórios.

Já no dia sete de setembro, através da televisão, divulgou seu propósito em apurar as falcatruas já conhecidas, punindo ("doa a quem doer") os responsáveis por esses descalabros, sem excluir os seus companheiros.

Através de um "esforço" excepcional conseguiu eleger o Presidente Aldo Rebelo, contando com a ajuda, inclusive, do recém-excluído Severino Cavalcanti. Isto ocorreu sem negar que liberara verbas que lhe asseguraram a minguada vitória por quinze votos.

E como ressaltado pelo Presidente Busato, na Conferência de Florianópolis, coincidentemente, também quinze eram os envolvidos nos escândalos que o povo veio a conhecer.

Após a desencontrada entrevista concedida na útlima segunda-feira, o Presidente negou tudo quanto havia dito anteriormente, equiparando-se, neste particular, ao sr. Paulo Maluf, que jamais admitiu as acusações de que fora alvo, inobstante as provas que tinha contra si.

Na semana passada, valendo-se de sua extraordinária "força de persuasão" e da eficiência de seus colaboradores, conseguiu fazer com que um número expressivo de parlamentares retirasse suas assinaturas deixadas no pedido de prorrogação do prazo da CPI dos Correios.

Com isto, pretendia livrar muitos de seus correligionários da perda do mandato e da condenação criminal iminente, com as investigações permanecendo incompletas.

Haveria, então, a confirmação daquilo que o Presidente disse na televisão quanto ao mensalão e à falta de provas que pudessem sustentar a decisão condenatória.

Ora, enquanto a OAB empenha-se em recolher elementos seguros do comportamento doloso dos infratores, evitando assumir uma posição precipitada; ainda que já tenhamos uma comissão ativa e atenta às diligências que estão sendo processadas no Congresso; embora possamos ter ao nosso lado entidades representativas da sociedade civil, igualmente interessadas na apuração dos fatos, o Presidente Lula continua revelando total aversão à busca da verdade, fazendo lembrar o Ministro Paulo Brossard quando disse que "A democracia neste país é relativa, mas a corrupção é absoluta" (1978).

A inferência a que se chega é de que nas Comissões de Inquérito nada, absolutamente nada será apurado e que nenhuma punição haverá que dependa do apoio do Presidente da República.

Este não tem a menor disposição em concorrer para que a justiça sobreponha-se ao lamaçal, como tantas vezes ressaltado pelo Presidente Roberto Busato.

Em verdade, a esta altura, talvez não seja mais necessário maior esforço em obter outras provas que possam demonstrar o contrário.

Tudo faz crer que o Presidente da República, tão pródigo em promessas e tão despreocupado na localização dos culpados, pretenda, quando muito, "tapar o sol com a peneira".

Falta-lhe, também, a coragem de declarar-se, desde já, candidato às próximas eleições, certamente por admitir que o povo tem a memória fraca ou, então, aguarde por um novo milagre que restabeleça a confiança de seus eleitores, a cada dia mais descrentes das promessas que lhe foram feitas”.