Editorial: Formação mercantilizada

sábado, 16 de julho de 2005 às 07:53

Belém, 16/05/2005 – O editorial “Formação mercantilizada” foi publicado na edição de hoje (16) do jornal O Liberal, do Pará:

"A exemplo do que já faz a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que submete os recém-formados em Direito ao Exame de Ordem para, se aprovados, exercerem profissionalmente a advocacia, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo também quer a realização de testes para avaliar o conteúdo dos cursos de graduação em Medicina. A tendência é tornar o exame nacional.

Para os conselheiros paulistas, o exame será opcional e os reprovados terão seus diplomas garantidos por lei o que provocará uma questão maior: os reprovados, que encontrarão dificuldades no acesso ao mercado em São Paulo, servirão para a Amazônia, por exemplo?

As causas e os motivos que levam o Conselho Regional de São Paulo a aderir a esse exame é justamente a falta de qualidade intelectual, política e cultural dos cursos de Medicina, o que constitui um grave perigo para a própria saúde da sociedade brasileira. No próprio Estado de São Paulo, o exame da OAB reprovou, no último teste, mais de 90% dos bacharéis. Isso generaliza a péssima qualidade profissional do sistema universitário brasileiro.

Envolvidos por discussões teóricas e polêmicas suscitadas ao sabor de pontos de vista contraditórios, esses exames, cuja tendência é serem feitos por diferentes conselhos, encaminham o problema para a origem das causas e dos motivos, ou seja, para os cursos de Medicina que também proliferaram nos últimos anos, graças a conchavos político-partidários e a favorecimentos a grupos econômicos, o que tem assegurado a mercantilização da formação médica no País.

O governo relaxou na autorização de novos cursos, não levou em conta o contexto socioeconômico regional, fez vista grossa para os aspectos pedagógicos do ensino e da educação médica, não dimensionou a infra-estrutura necessária para a qualidade da formação dos médicos.

As conseqüências estão ora nas páginas policiais da mídia, ora no crescente número de processos, que exigem providências dos conselhos regionais de Medicina que, por sinal, não são ouvidos na abertura de novos cursos e se tornam os receptores das mazelas dos péssimos cursos que periodicamente vitimam pessoas que precisam de assistência médica de qualidade."