Editorial: O custo da educação

segunda-feira, 11 de julho de 2005 às 08:29

Brasília, 11/07/2005 – O editorial “O custo da educação” foi publicado na edição de hoje (11) do jornal O Estado de Minas (MG):

“Tudo que se tem lido sobre a importância da preparação intelectual para corrigir as distorções do crescimento econômico – que há quase um século vem mantendo inalterável tendência em favor das minorias abastadas – já é de conhecimento público. Em seu clássico parecer sobre a reforma do ensino no Império – que ficou mais conhecido pela discussão com seu mestre Ernesto Carneiro Ribeiro –, Rui Barbosa insistia numa tese: trabalhador mais preparado exerce melhor a profissão e só assim terá condições de ganhar melhores salários.

Em 1932, os pioneiros da Escola Nova pregavam a democratização da escola, com aulas em regime de tempo integral nas primeiras séries (hoje ensino fundamental) e pelo menos seis horas diárias no ensino médio. O Manifesto dos Pioneiros ficou perdido no tempo e hoje o ensino de terceiro grau está praticamente nas mãos do setor privado, excluindo milhões de jovens, cujas famílias recebem de um (R$ 300) a três (R$ 900) salários mínimos, uma vez que o poder público não tem competência para garantir ensino para todos os alunos. Quem não sabe que professor da rede pública mineira tem salário de ingresso de R$ 212?

De reforma em reforma, chegamos a uma situação caótica. Exemplo: no último exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, menos de 10% dos bacharéis inscritos foram aprovados. O que confirma a péssima qualidade das centenas de cursos de direito que se abrem com plena concordância do Conselho Nacional de Educação (CNE) e Ministério da Educação.

Em livro que acaba de chegar às livrarias, o economista Mário Pochmann, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), traduz em números a triste realidade: para ter 80% dos jovens entre 15 e 17 anos no ensino médio e 30% dos estudantes entre 18 e 24 anos no ensino superior, seriam necessários R$ 960 bilhões (médio) e R$ 1,7 bilhão (superior). Uma projeção irreal, pois o Brasil sequer conta com professores qualificados para receber tantos alunos.

Resultado: todos os anos, centenas de milhares de crianças e jovens matriculados nos três primeiros graus de ensino (pré-escolar, fundamental e médio) são obrigados a abandonar as escolas (evasão escolar), porque suas famílias não têm dinheiro para cobrir as despesas. O sonho continua e nem vale a pena cobrar dos Ph.Ds de nosso tempo, que tenham conhecimento de analistas mais competentes do que no passado e que tentaram garantir escola para todos”.