Esquivel: Brasil não pode ter medo e deveria enfrentar dívida

quarta-feira, 02 de fevereiro de 2005 às 12:37

Curitiba (PR), 02/02/2005 -O Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel, afirmou hoje que os governos latino-americanos - citou principalmente os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Nestor Kirchner, da Argentina - “não podem governar sob medo e deveriam levar em bloco à Corte Internacional de Haia proposta para que seja suspenso totalmente o pagamento da dívida externa”. Segundo ele, não é mais possível continuar pagando a dívida externa “com a fome e a exclusão social como vem acontecendo no Brasil e diversos países da América Latina”.

Esquivel fez estas afirmações em entrevista coletiva, logo após se reunir com o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, na sede da Seccional da OAB do Paraná. Para o Prêmio Nobel da Paz, falta vontade política aos governantes latino-americanos para enfrentar o problema da dívida externa.”Não se pode ter medo do Fundo Monetário Internacional, não se pode ficar submetido, pois o custo disso são os meninos e meninas de rua, a exclusão social”.

Ele fez um apelo aos governantes para que apostem na capacidade e nos valores do povo, no qual reside a fonte do desenvolvimento econômico e social “Caso contrário, estaremos perdendo soberania, autonomia e dignidade como países”. Esquivel sustentou que a dívida externa é um instrumento de dominação por meio do qual o FMI, Banco Mundial e o Departamento de Estado norte-americano tem controlado e pressionado os governos latino-americanos. “Por isso é preciso vontade política e uma ação conjunta de países como Brasil, Argentina, Venezuela, Uruguai, de todos os países da América Latina, para enfrentar esse mecanismo de dominação”, afirmou.

Adolfo Pérez Esquivel lembrou que no recém terminado Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, ele e outros palestrantes propuseram o cancelamento da dívida externa como forma de combate à pobreza e à exclusão social na América Latina. E uma das formas de repúdio à dívida externa, conforme frisou, pode ser o apelo ao Tribunal Internacional de Haia e outros fóruns internacionais. Ele discutiu com o presidente da OAB, Roberto Busato, a ação ajuizada pela entidade no Supremo Tribunal Federal que cobra a auditoria da dívida externa pelo Congresso Nacional, conforme previsto na Constituição de 1988 e não cumprida 16 anos depois de sua promulgação.