Busato: resistência de Lula em abrir arquivos frustra o país

segunda-feira, 06 de dezembro de 2004 às 11:51

Brasília, 06/12/2004 - O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, afirmou hoje (06) que há frustração na população quanto ao fato de ter colocado no governo um partido como o PT e um presidente com o passado e tradição de luta pelo Estado Democrático de Direito, e, agora, este mesmo governo apresentar resistência a abrir os arquivos da ditadura. Segundo Busato, “causa perplexidade que o governo não consiga uma sintonia por completo neste campo”. “É por isso que o brasileiro vê com uma certa frustração esse aspecto e outros, principalmente na área social do governo”.

Em entrevista concedida durante a abertura do encontro nacional para debate da manutenção das prerrogativas dos advogados, realizado na OAB, Busato lembrou que a intenção, com a abertura dos arquivos da ditadura, não é cobrar nada do Exército brasileiro. “Eu acredito que os militares de hoje não são os militares de ontem”, afirmou ele, explicando que o objetivo é conhecer a história daquele “período de obscurantismo” e não promover uma caça às bruxas.

O presidente da OAB ainda elogiou a atuação do Exército atualmente. “Um Exército moderno, principalmente na Amazônia, que é o Exército mais aperfeiçoado do mundo em trabalho na selva”, afirmou Busato. “Não vejo nenhum fato que possa colocar em xeque a sua imagem perante à população brasileira”.

Veja, a seguir, a íntegra da entrevista concedida pelo presidente nacional da OAB:

P - É estranha essa resistência do governo em abrir os arquivos da ditadura, logo um governo formado por gente que sofreu repressão naquela época?
R - Sem dúvida nenhuma e é isso que causa uma certa indagação da população brasileira. No momento em que a população coloca um partido como o PT no governo, elege um presidente como Lula, com o seu passado e sua tradição de luta pelo Estado Democrático de Direito, pela quebra da exclusão social, pela publicização e moralidade dos atos públicos, causa perplexidade o governo não conseguir uma sintonia por completo neste campo. É por isso que o brasileiro vê com frustração esse aspecto e outros, principalmente na área social do governo.

P - Passa a imagem de que há um medo muito grande dos militares...
R - Não há porque. Eu acredito que os militares de hoje não são os militares de ontem. Não se quer cobrar nada da instituição. Quer se conhecer exatamente a história ocorrida naquele período de obscurantismo. Então não há qualquer tipo de sentimento de revanche, de diminuição ou de repúdio ao Exército brasileiro, muito pelo contrário. Hoje nós estamos vendo um outro Exército. Um Exército moderno, principalmente na Amazônia, que é o Exército mais aperfeiçoado do mundo em trabalho na selva. Então, o Exército brasileiro é um símbolo que está preservado dentro da população e não vejo nenhum fato que possa colocar em xeque a sua imagem perante à população brasileira.