Diretor do Incor quer exame igual ao da OAB na medicina

segunda-feira, 26 de julho de 2004 às 09:13

Brasília,26/07/2004 - O cardiologista José Antônio Franchini Ramires, diretor-geral do Incor (Instituto do Coração), defendeu hoje (26), em entrevista à Folha de S.Paulo, que os médicos que se formam , a exemplo do que já vem fazendo há vários anos a Ordem dos Advogados do Brasil com os bacharéis em Direito , deveriam passar por um exame antes de poder exercer a profissão. “ Se a medicina tivesse um exame semelhante ao da OAB , o resultado seria exatamente igual. Catastrófico! Por quê? Criaram-se faculdades de medicina sem atender às necessidades de demanda”. Segundo ele, “ há um excesso de alunos em faculdades de medicina que saem com péssima formação”.

Folha - E como o senhor vê a proliferação de escolas médicas?
Ramires - Esse é um grande problema político. Infelizmente, a expansão de escolas não se faz com base nas necessidades do país. Não há nem professores qualificados em número suficiente, mas se cria o curso. O resultado são profissionais de baixo nível. No direito isso ocorreu ainda antes da medicina e, por isso, o exame da OAB tem esse resultado catastrófico. Se a medicina tivesse um exame semelhante, o resultado seria exatamente igual. Catastrófico! Por quê? Criaram-se faculdades de medicina sem atender às necessidades de demanda. Criam-se premissas falsas, como a falta de médicos em determinadas regiões. Mas por que ninguém quer ir para tal lugar? Porque não se criaram as condições para o indivíduo exercer a profissão lá. E, depois, ainda importam médicos. Eu não sou contra a vinda de médicos de fora, eu acho que isso até fortalece a nossa medicina. Mas qual médico? Para fazer atendimento básico? Ah, isso é um erro crasso. E, além do mais, apesar do excesso de alunos em faculdades de medicina que saem com péssima formação, nós ainda temos os brasileiros que vão estudar no exterior e querem voltar para o Brasil. Estamos recebendo brasileiros formados na Argentina, no Paraguai, na Bolívia, no Peru, na Colômbia, em Cuba...

Folha - O senhor defende a realização de um exame para que formandos em medicina possam exercer a profissão?
Ramires - Defendo. Se não é possível brecar as escolas, então, que se faça um exame de Ordem à semelhança do que ocorre no direito. É preciso acabar com a demagogia. Não dá para fingir que um terço da população vai ser advogado, um terço médico e um terço engenheiro. Isso é uma aberração. Há cidades do interior, pequenas, que têm três faculdades de medicina. Por quê? Porque existem três universidades que disputam mercado, e possuir faculdade de medicina é um chamariz. Não interessa se é uma faculdade ruim, mal instalada, sem professores. Não há gente formada para ensinar em todas essas faculdades de medicina. Então, apanham-se médicos, muitas vezes sem formação educacional adequada, e eles passam a dar aula. E daí a corrida pelo doutorado, pelo mestrado. Como se o título de mestre ou o título de doutor fosse um título encomendado para a necessidade. Olha, eu preciso tirar o título de doutor porque eu fui contratado pela faculdade tal e, se eu não tirar até dia tal, eles vão me mandar embora. Eu preciso ser pelo menos mestre para a faculdade ter o reconhecimento do MEC. É uma lástima. Esse é um país que não enxerga o seu futuro, pelo menos nessa área.