Artigo: Mário Lago, muitos em um

sexta-feira, 05 de agosto de 2011 às 03:57

Rio de Janeiro, 05/08/2011 - O artigo "Mário Lago, muitos em um" é de autoria do presidente da Seccional da OAB do Rio de Janeiro, Wadih Damous, e foi publicado na edição de hoje (05) do jornal O Dia (RJ):


"O Direito não foi sua vocação, mas ele abraçou as melhores causas. Formado pela Universidade do Brasil, deixou a profissão para atender ao chamado das artes, da boemia e do ativismo político, tornando-se múltiplo num só. Foi e continua sendo, pelo patrimônio cultural atemporal que nos legou, Mário Lago, merecedor de justas homenagens neste ano de seu centenário de nascimento.


Dizia que nascera inconformado, vocacionalmente rebelde. Frasista, uma vez declarou: "Eu sei de uma coisa: estou incurso em vários artigos do Código Penal: ator, escritor, compositor, dramaturgo, vários artigos do Código Penal". Com toda a certeza, juiz algum condenaria por estes 'crimes' o autor e seus parceiros de 'Nada além', 'Ai, que saudades da Amélia' e tantos sucessos. Muito menos o radialista ou o ótimo intérprete.


Nascido na Lapa e criado no teatro e na música, Mário Lago começou cedo também na militância política, liderando, aos 12 anos, uma greve no tradicional Colégio Pedro II contra o uso obrigatório de canecas. Na faculdade, ligando-se às ideias comunistas, intensificou o ativismo que o levaria à prisão por diversas vezes após o golpe de 1964, uma delas por ter traduzido um livro sobre a Guerra do Vietnã. Até o fim da vida, em 2002, participou de todas as campanhas envolvendo os direitos humanos e a cidadania.


Talvez a melhor definição sobre este homem múltiplo seja a do próprio Mário, nos versos finais de 'Eu, Lago sou', poema autobiográfico: "Não é o mundo que eu queria/ Nem a vida que sonhei./Vida de paz e alegria/ Num mundo de uma só lei./ Mas me ensinaram, e guardei,/ Que após um dia, há outro dia./ E rindo como poeta/ Que o riso é minha saúde/ Fiz da alegria, meta/ Fiz da esperança, virtude."