Editorial: Vozes da sociedade

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010 às 08:56

Porto Alegre, 15/02/2010 - O editorial "Vozes da sociedade" foi publicado na edição de hoje (15) do jornal Zero Hora, de Porto Alegre:

"O episódio que resultou na prisão preventiva do governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal, evidenciou mais uma vez a importância histórica assumida, em alguns momentos, por instituições da sociedade organizada, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Foi dessa corporação profissional que partiu a iniciativa de propor à Procuradoria-Geral da República que pleiteasse judicialmente o afastamento do governador e sua prisão preventiva em decorrência de seu suposto envolvimento nos fatos investigados na chamada Operação Caixa de Pandora. Há momentos na trajetória das nações em que alguma entidade ou até alguns cidadãos assumem um papel de liderança indispensável para que, como instrumentos da sociedade, abram caminho para que o clamor popular tenha consequência. No caso da OAB, iniciativa semelhante, de dimensões ainda maiores, já ocorrera em 1991, quando, junto com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), encaminhou à Câmara dos Deputados o pedido de abertura do processo de impeachment do então presidente Fernando Collor.


A evolução das nações e dos povos encontra, em episódios como esses e na emergência de instituições como as citadas, a maneira de avançar, mesmo quando são inoperantes ou lentas as instituições formais que se originaram da divisão de poderes. A história brasileira é generosa em exemplos de instituições que assumiram papéis de liderança, como os jesuítas ou a maçonaria nos tempos da Colônia e do Império, ou, mais recentemente, corporações de empresários ou de trabalhadores, reunidos ou não em sindicatos. Essas vozes da sociedade são importantes não apenas em momentos de visibilidade tão clara agora ou no impeachment de Collor. Às vezes tais vozes precisam elevar-se para se opor ao arbítrio de inescrupulosos detentores do poder ou para denunciar movimentos que prejudicam a liberdade. Outras vezes são o instrumento da indignação e do protesto.


Assim, as entidades da sociedade civil são ferramentas indispensáveis para a formação de sociedades democráticas e para fazer, mediante pressão legítima, com que as engrenagens do poder se movam ou sejam mais ágeis. Nem mesmo as instituições de representação da sociedade, como os parlamentos, eliminam o papel das organizações sociais que são capazes, por sua inserção social, de mobilizar-se diante de fatos como os da corrupção dos governos ou de ameaças a direitos.


O exemplo da OAB e de sua militância diante da degradação ética evidenciada nos episódios do governo do Distrito Federal revela como uma corporação profissional pode ter um papel relevante na própria definição dos rumos políticos de uma região e do próprio país".