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Manifesto sobre invasões: Thomaz Bastos patrocina a repressão

sexta-feira, 24 de junho de 2005 às 11h47

Brasília, 24/06/2005 - Um manifesto de repúdio às invasões de escritórios de advogados, assinado por diversas lideranças da categoria, está circulando em São Paulo e Rio de Janeiro - Estados que apresentam maior número de vítimas das violações - e cobra o fim imediato dessa prática ilegal. O manifesto sustenta que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, “como chefe da Polícia Federal, tem se mostrado indiferente a essas violações e, conquanto tenha sido advogado um dia, publica que agora mudou de lado. Patrocina essa espécie de repressão, atentatória à ordem jurídica”.

O documento é assinado por lideranças como o presidente da Seccional da OAB do Rio de Janeiro e coordenador do Colégio de Presidentes de Conselhos Seccionais da entidade, Octávio Gomes; o ex-presidente nacional da OAB e hoje membro honorário vitalício do seu Conselho Federal, José Roberto Batochio; pelo conselheiro federal da OAB por São Paulo, Alberto Zacharias Toron, vice-presidente da Comissão Nacional de Defesa e Valorização da Advocacia. Assinam também o manifesto o presidente da Associação Nacional de Advogados Criminais, Elias Mattar Assad; o ex-conselheiro federal da OAB por São Paulo, Paulo Sérgio Leite Fernandes; os presidentes da Subseções da Ordem de Campinas, Djalma Lacerda, e Sorocaba, Antonio Delgado, além do presidente da Comissão de Prerrogativas da OAB-SP, Mário de Oliveira Filho, entre outros advogados.

O manifesto à classe dos advogados, como é intitulado, conclama os profissionais a resistirem às invasões, além de buscarem o Judiciário para reparação de seus direitos violados. “Sendo manifestamente ilegais as invasões de escritórios de advocacia - e ordem emana de juiz não lava a ilicitude - e não havendo tempo hábil para a reparação do dano na via jurisdicional, alternativa não sobra aos advogados que não resistir a tais e ilícitas invasões, opondo-se à ação policial na defesa de direito constitucional e legalmente assegurado”, enfatiza o documento.

Os advogados signatários afirmam “não ignorar que a oposição física à ilegalidade oficial poderá levar a situações extremas, inclusive com perigo à incolumidade pessoal e à vida”. E observam que não será esta, no entanto, a primeira vez em que os advogados correrão riscos por causa das liberdades no Brasil. “Assim foi no Estado Novo, assim foi nos Anos de Chumbo, e assim será, sempre e sempre”, conclui o grito de alerta dos advogados.

A seguir, a íntegra do documento “Invasões de Escritórios de Advogados - Manifesto à Classe”:

“Tendo em vista o esgotamento das vias do diálogo junto ao Ministério da Justiça com o objetivo de fazer cessar as inconstitucionais invasões de escritórios de advocacia pela Polícia Federal, autorizadas por alguns setores do Judiciário, os advogados infra assinados manifestam aos colegas o seguinte:

1) O direito de qualquer cidadão à ampla defesa é de índole constitucional e constitui cláusula "pétrea", imutável, nos termos do preceituado no artigo 5o, inciso LV, da Carta Magna.

2) A defesa técnica do suspeito, investigado, indiciado, denunciado ou condenado incumbe privativamente ao advogado que, como disposto no artigo 133 da Constituição Federal, exerce função pública e é indispensável à tarefa jurisdicional do Estado, razão pela qual é declarado inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão e nos limites da lei. A Lei Federal no 8.906, de 4/7/94, Estatuto da Advocacia e da OAB, assegura a intangibilidade do escritório, dos arquivos e dos documentos relativos ao exercício profissional, tutelando, assim, a privacidade do cidadão que utiliza serviços advocatícios.

3) Atendendo a recorrentes pedidos da Polícia Federal (chancelados por membros do Ministério Público), setores autoritários da Justiça Federal de primeiro grau vêm autorizando, inconstitucional e ilicitamente, a invasão de escritórios de advogados (e, por vezes, a prisão destes) para busca e apreensão de documentos relativos a seus clientes, em escancarada afronta à Constituição e ao ordenamento jurídico. Esses setores da magistratura comporiam o que, nos meios forenses, se convencionou denominar, significativamente, de "Esquadrão da Morte do Poder Judiciário Federal".

4) Tais atos de violência e de arbítrio da Polícia Federal e de referidos juízes federais precisam cessar, posto que ilegais e atentatórios a direitos fundamentais dos cidadãos e dos advogados que os representam.

5) O Sr. Ministro da Justiça, Chefe da Polícia Federal, tem se mostrado indiferente a essas violações e, conquanto tenha sido advogado um dia, publica que agora "mudou de lado". Patrocina essa espécie de repressão, atentatória à ordem jurídica.

6) É da formação dos advogados impugnar decisões e atos ilegais através de recursos, buscando no Judiciário e na Superior Instância a reparação do direito violado, em juízo de revisão. Assim é e deve ser, sempre que possível.

7) Ocorre que em certas situações a busca da reparação do direito violado na esfera jurisdicional, seja em sede de controle de legalidade de ato administrativo, seja no âmbito recursal, é inócua, dada a consumação, exaurimento e irreparabilidade do dano gerado pela violência perpetrada. Por isso que o Direito Civil e o Direito Penal reconhecem a legitimidade da autotutela de direitos, instituindo, por exemplo, o desforço imediato no caso de violência contra a posse e a legítima defesa para repelir injusta e atual agressão. A se tolerar a consumação do dano, a sua irreversibilidade resta inexorável.

8) Por isso, sendo manifestamente ilegais as invasões de escritórios de advocacia (a ordem emanada de juiz não lava a ilicitude) e não havendo tempo hábil para a reparação do dano na via jurisdicional, alternativa não sobra aos advogados que não RESISTIR a tais e ilícitas invasões, opondo se à ação policial na defesa de direito constitucional e legalmente assegurado.

9) Não se ignora que a oposição física à ilegalidade oficial poderá levar a situações extremas, inclusive com perigo à incolumidade pessoal e à vida. Não será esta, no entanto, a primeira vez em que os advogados arrostarão riscos por causa das liberdades no Brasil. Assim foi no "Estado Novo", assim foi nos "Anos de Chumbo", e assim será, sempre e sempre”.

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